Não se conserta o que já nasce com defeito.

domingo, 12 de agosto de 2012

Reencontro

Eu tinha tantos problemas e não precisava de mais algum (realmente não precisava). Eu falei contigo, como quem fala com qualquer amigo, e você falou comigo como quem fala com qualquer desconhecido. Acho que você não viu o brilho dos meus olhos, ou talvez nem ligue pra esse brilho, mas eu estava feliz por te ver, por poder te tocar, depois de tanto tempo.
Te falei de tudo que eu vivi nesse tempo que passamos longe, de como o sol nascia diferente quando eu estava a dois dias sem dormir. Te falei de como o aspecto da areia mudava quando eu estava bêbada demais pra lembrar de você. Te falei tudo, tudo mesmo!
Te falei da cor da musica que eu ouvia enquanto estava tão chapada que nem dava pra diferençar os meus dedos, de como as vozes das pessoas tinha gosto enquanto eu assistia TV.
- Sinestesia!
Você me disse, era isso que eu havia sentido. A tal sinestesia. Era fantástica e aconchegante. Mas você mal me dava ouvidos, você olhava ao redor, olhava para o relógio e eu não parava de falar (como de costume). Até que eu percebi que nós não estávamos no mesmo ritmo, nós nem estávamos escutando a mesma música.
- O que mudou? Desde quando começamos a nos distanciar?
- Desde sempre. - Você me respondeu. (Ah! Se você soubesse o quanto essa resposta machucou.)
Eu fiquei calada, e pretendia permanecer assim. Eu não imaginava que o nosso reencontro iria ser assim. Olhei ao redor, o vento estava batendo nas folhas das árvores, o que fazia um barulho muito bom, algumas folhas secas voavam na areia. Eu estava enterrando meu pé, sujando todo meu all star vermelho de areia, mas eu nem estava me importando.
- Foi bom te ver. - Eu tentei puxar assunto.
- Sabe, esse tempo que passamos sem nos ver eu percebi que eu não preciso tanto de você quanto eu achava que precisava. Passamos tanto tempo sem nos ver que nosso sentimento ficou no passado, como se nem tivesse existido. Temos um sentimento não vivido, historias que nunca aconteceram, planos para um casamento de mentirinha, e agora eu nem sei se quero me casar com alguém. Sabe, eu tentei manter o que nós começamos, tentei fazer com que desse certo, mas a distancia nos deixa vulneráveis a novas pessoas, eu usei o escudo o quanto eu pude, mas uma hora eu tinha que deixar alguém entrar. Aconteceu! Não foi traição, eu não faria isso, se fosse traição eu nem lhe contaria. Foi algo sem pensar, mas que me fez entender o que eu sentia. Valeu a pena, entende?
- Entendo perfeitamente. E até concordo com você, temos que baixar o escudo as vezes. - Me levantei, olhei para o banco de madeira que estava sentada - E sabe, eu nunca baixei o meu. E nem quero que você volte atrás, siga seu caminho, eu vou seguir o meu. E daqui pra frente, acho que não vou precisar de escudos.

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