Não se conserta o que já nasce com defeito.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Ele era espontâneo, perfeccionista e inteligente. Gostava de Chico Buarque e Gonzaguinha, não tinha um gosto musical tão diferente do meu, mas não era muito parecido. Gostava particularmente da sua boca, embora todos preferissem seus olhos. Olhos verdes ou azuis, não sei ao certo, mas ele também não sabia. Acho que eram azuis, e que ganhavam um cinza num fim de tarde entediante de quarta-feira. Não sei se ele tinha uma cor favorita, mas a minha era das suas roupas azuis, mas só porque ele ficava lindo de azul. Mas também ficava lindo com uma camiseta básica branca, ou um casaco qualquer. Sempre quis ver o mar com ele, queria ver como seus olhos ficam quando se mistura o azul do mar com o azul dos olhos dele. Não me importo com todo o resto, ele tem alma. E é isso que faz com que eu sinta falta dele num sábado a noite, ou num domingo a noite. Ele me faz lindas poesias, mas nunca me falou uma. Só sei disso porque sinto o quanto ele me ama em segredo, sinto seu olhar, sinto seu toque e sinto a conexão que criamos. Talvez, agora, ele esteja dormindo, talvez esteja sonhando, talvez seja comigo. Talvez esteja acordado, pensando em mim. Porque eu sei que ele me ama. E eu? Eu guardo segredo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Demais

Eu tento entender porque você desistiu de nós dois. Tento entender porque quis deixar tudo que passamos pra o passado e focar no seu futuro. No futuro sem mim, sem nós. Eu sei que eu causava alguns problemas e que a maioria das nossas brigas era por conta da minha frieza ou minha teimosia ou, até, da minha infantilidade. Eu sei que muitas vezes você conversou e achou que era melhor deixar pra depois, mas que chegou uma hora que estava tão cheio disso tudo, tão cheio de mim, que não aguentou e explodiu. E você explodiu. E eu explodi junto. Você pode dizer que eu só chorava e escutava, mas, pra mim,  isso é explodir. Isso é colocar pra fora o que eu sinto.
Um dia você me perguntou se eu te amava, é, acho que eu te amo. Acho que você é que não me ama, e vivia me cobrando perfeição, sem perceber que nada disso você queria fazer. Você cobrava de mim atitudes que você mesmo não tinha, cobrava uma maturidade que você tava longe de alcançar.
Agora eu penso em nós dois, penso em como acabou e em como começou, penso em como fluiu tudo isso entre a gente. E acho que foi pouco, e o que é pouco nem me interessa. Eu gosto do muito, do sentir, do agir, do fazer, do sorrir, do dançar, do cantar, do amar... E você estava perfeitamente equilibrado ao meu lado, reparando o que eu fazia, o que eu falava. Achava estranho eu dançar enquanto tocava uma musica da  banda Novos Baianos, e eu achava lindo você me olhando, mal sabia que era um olhar de reprovação. Você conseguia fazer com que eu me sentisse errada em sentir o mundo, mas, no momento, eu nem ligava. Eu sentia! Eu via as cores! E você me achando chata demais, louca demais, sensual demais, bonita demais, maconheira demais. Acho que foi que fez com que não dessemos certo. Você achava tudo demais em mim, não aguentou e caiu fora.
Durou o tempo em que você gostou de mim.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pesadelo

E eu  estou caindo, tento me segurar numa ponta de sanidade que vi voando ao meu lado, mas não consegui. Eu tento flutuar, tento voar, tento me segurar em tudo que passa ao meu redor, mas nada funciona. Mas eu é um sonho, eu sei que é um sonho e que eu vou acordar antes de chegar ao chão. Eu nem estou vendo o chão, só vejo a escuridão abaixo de mim, e é talvez disso que eu tenha medo. Tenho medo de cair no vazio, no escuro, no nada. Tenho medo de ser esquecida sozinha na chuva com meu all star vermelho, medo de ninguém reparar que eu estou sorrindo e querendo chamar a atenção de alguém, medo de ninguém reparar que eu só quero um pouco de cada um, só um pouquinho.
Sou uma mendiga de atenção, tento aparecer só um pouco, só o suficiente pra alguém me notar. Alguns até olham, mas parece que o que eles vêem é só uma menina com um sorriso um pouco bobo e joelhos tortos. Mas sou eu que estou lá, clamando a atenção de alguém. Com placas vermelhas escritas "ME OLHEM" e ninguém percebe o meu medo de estar só.
E eu estou caindo. O vazio está começando a me engolir, o escuro começa a aparecer ao meu redor. Alguém me salve, por favor, alguém! Ninguém escuta minha dor. Até que aparece uma mão amiga, uma que pega na minha mão e fala: - Não tenha medo, estamos juntos nessa. E eu acredito que estamos juntos mesmo, acredito que vou me salvar do esquecimento. Mas quando eu estou mais confiando nela, ela me solta e eu caiu. Estou caindo. Cada vez mais rápido, menos sonoro, mais emocionante. Começo a curtir a queda e quando eu menos espero, acordo. Acordo suada e tremendo, atordoada. Eu não estava mais caindo, e deixo escapar um sorriso.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Eu + eu = nós.

Se eu não fosse eu, se eu fosse você...
Ao me ver pela primeira vez, eu me apaixonaria por mim. Me apaixonaria pelos sorrisos bobos e ridículos, me apaixonaria quando eu ajeitasse meu cabelo, ou quando eu olhasse pras minhas mãos no final de uma piada sem graça que eu só ri por educação. Me apaixonaria quando me aproximasse de mim, quando olhasse no meu olho, quando eu me visse sorrir de tão constrangida e me apaixonaria por eu olhar pra baixo a cada palavra que eu falasse. Me apaixonaria quando eu mostrasse interesse perguntando o porque de tudo que eu perguntava. Me apaixonaria por tudo em mim.
Falaria comigo, ficaria comigo, namoraria comigo, me casaria comigo. E faria de tudo pra que dessemos certo, faria de tudo pra me fazer feliz. Teria um filho comigo, porque eu digo que não quero, mas sei que no fundo eu quero sim. E esse filho seria amado por mim e por mim. Teria um cachorro, porque eu amo cachorros.
Por fim, eu dormiria comigo e acordaria comigo todos os dias, e não me cansaria de mim. Eu preciso de mim pra existir, e isso faz com que eu me sinta completa comigo mesma.