Não se conserta o que já nasce com defeito.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Uma vez eu disse que a saudade é como um soco no estômago, mas acho que me enganei. Não, isso é vontade de fazer xixi em uma fila de banco. Saudade é outra coisa, é maior que isso. Saudade talvez seja um soco na bexiga cheia, quando você ta pronto pra ir ao banheiro. É, talvez seja basicamente (e genericamente) isso.
"Saudade, hoje eu posso dizer o que é dor de verdade..."

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Não é pra você.

Eu não paro de pensar no jeito como você dá um murrinho leve no meu queixo e como me olha de cantinho de olho quando mordo sua língua. Não paro de pensar no quanto eu sinto sua falta, e no quanto eu te odeio por me fazer senti-la.
Eu queria poder (e saber) escrever sobre você da melhor forma. Sei lá, o quanto é bonito, seguro, inteligente... Mas não consigo. Seus defeitos e olhares gritam pra mim, e eu os escuto como se fossem uma canção do Chico Buarque. Me irritar é o que você faz de melhor, e eu meio que adoro isso.
Você diz que e exagero, que eu tenho que respirar e me acalmar. Eu te digo que nada é assim do jeito que você ta dizendo, mas eu sei que é. Eu sei que ter calma é o melhor a se fazer, mas eu não consigo. Ok?
Não consigo dizer tudo de bom que você tem a oferecer, mas eu adoro tudo de ruim. A-DO-RO.

domingo, 16 de dezembro de 2012


Naquele dia eu me encontrei com a morte, diferente do que todos pensam, ela é uma mulher sedutora. Estava com um vestido de cetim preto, que caia perfeitamente sobre as suas curvas. Ela me chamava e fazia com que seguisse seus passos e eu queria recuar, mas não conseguia. Ela sorriu pra mim, e acho que eu me apaixonei pela morte.
Inicialmente achei que fosse apenas uma ilusão, que essa ideia de que ela era a morte fosse apenas coisa da minha cabeça. Ela era apenas uma mulher sedutora, gostando de saber que consegue fazer com que um homem caia aos seus pés com apenas um sorriso, mas eu não conseguia acreditar nisso. Sua pele branca, cabelo preto e um batom vermelho faziam com que eu sentisse uma atração inexplicável por ela. E ela sorria pra mim.
Eu a segui por algum tempo, depois percebi o quanto eu estava me sentindo ridículo e juvenil. Parei, olhei para trás pra ver se havia alguém olhando e desviei o caminho. Parei de segui-la. Ela instantaneamente apareceu no outro caminho, mas não foi como num passe de mágica, era como se ela tivesse em todos os lugares escondidos e quando eu olhasse ela ia saindo do escuro. Os raios de sol batiam em sua pele branca e pareciam se fundir de algum modo. Ela parecia brilhar!
Decidi olhar para meus pés, assim não poderia vê-la. E ela falou comigo! Imagine, caro leitor, como eu fiquei quando ela me disse que eu deveria olhar pra frente. Eu nem conseguia pensar no que ela estava me falando, mas eu estava achando fantástico. Olhei pra frente e fui direto para casa, que já estava bem perto. Ela entrou comigo, e se acomodou no sofá cruzando as belas pernas brancas. Perguntei-me algumas vezes o que ela fazia ali, comigo. E ela apenas sorria.
- Eu só estou te fazendo companhia, você anda tão sozinho.
- Mas ninguém quer ter a morte andando ao seu lado.
- Me considere sua vida, então.
Eu sorri. Sorri porque eu achava fantástico o fato dela estar sendo engraçada e aconchegante. Nunca imaginei a morte tão aconchegante assim.
- Então é assim que a gente morre?
- Assim? Assim como?
- Tendo uma conversa amigável com a morte?
- Não, você não está morrendo. Só acho que você é sozinho demais, e que merece ouvir algumas histórias engraçadas.
- Engraçadas? É isso que você faz? Conta histórias?
- Só pra você.
Eu não conseguia entender, algo rodava dentro da minha cabeça. Eu estava escutando um zumbido muito alto, que me deixava tonto e com náuseas. Senti que ela havia mentido pra mim, que eu estava morrendo. Lembro-me de quando ela se levantou, me olhou nos olhos, sorriu e me beijou. Um beijo ácido, cortante, amargo, doce, refrescante. Senti minha vida saindo pelas pontas dos meus dedos, e senti meus lábios dormentes. A morte mentiu pra mim.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um doce!

"Tava calor! Pode crer, eu me lembro."
Estava amanhecendo e ele não me olhou a festa inteira, eu nem sentia meus dedos mais. Não sei o quanto eu bebi, nem sei se ele bebeu. A música era boa, mas não sei que ritmo era. Acho que ele dançava, enquanto ria com os amigos e cantava algumas partes. Eu o olhava fixamente, e ele me ignorava.
"Nomes são o de menos."
Eu olhei pra o lado e procurei meu copo, ele me abordou. Ele sabia que eu o estava olhando, e agora estava falando comigo. Um piercing no septo, um em cada mamilo e, enquanto ele falava, eu percebi um na língua. Ele sorria muito, e falava calmamente, mas vários assuntos. Ele me perguntou se eu tava curtindo, eu só disse sim, e ele ficou esperando mais alguma coisa na resposta. Ele não me disse o nome dele, nem quis saber o meu.
"Seu gosto era doce."
Na verdade, eu nem lembro muito como tudo ocorreu. Só lembro dele me beijando, sua mão deslizando pela minha nuca, fazendo arrepiar algumas partes do corpo. Entre alguns beijos ele sorria, e brilhava como o sol. Ou eu é que tava brilhando? Não sei ao certo, mas ele estava lindo.
Lembro apenas disso. Não sei como cheguei em casa nem a hora que eu cheguei. Mas ele fez parte de mim como ninguém nunca fez. Ele tinha um gosto doce na boca e no pescoço. Não sei como encontrá-lo, nem com quem ele anda, nem onde mora. Nem sei seu nome. Se eu encontrá-lo na rua, nem saberei que foi ele. Mas ele era doce.