Não se conserta o que já nasce com defeito.

domingo, 16 de dezembro de 2012


Naquele dia eu me encontrei com a morte, diferente do que todos pensam, ela é uma mulher sedutora. Estava com um vestido de cetim preto, que caia perfeitamente sobre as suas curvas. Ela me chamava e fazia com que seguisse seus passos e eu queria recuar, mas não conseguia. Ela sorriu pra mim, e acho que eu me apaixonei pela morte.
Inicialmente achei que fosse apenas uma ilusão, que essa ideia de que ela era a morte fosse apenas coisa da minha cabeça. Ela era apenas uma mulher sedutora, gostando de saber que consegue fazer com que um homem caia aos seus pés com apenas um sorriso, mas eu não conseguia acreditar nisso. Sua pele branca, cabelo preto e um batom vermelho faziam com que eu sentisse uma atração inexplicável por ela. E ela sorria pra mim.
Eu a segui por algum tempo, depois percebi o quanto eu estava me sentindo ridículo e juvenil. Parei, olhei para trás pra ver se havia alguém olhando e desviei o caminho. Parei de segui-la. Ela instantaneamente apareceu no outro caminho, mas não foi como num passe de mágica, era como se ela tivesse em todos os lugares escondidos e quando eu olhasse ela ia saindo do escuro. Os raios de sol batiam em sua pele branca e pareciam se fundir de algum modo. Ela parecia brilhar!
Decidi olhar para meus pés, assim não poderia vê-la. E ela falou comigo! Imagine, caro leitor, como eu fiquei quando ela me disse que eu deveria olhar pra frente. Eu nem conseguia pensar no que ela estava me falando, mas eu estava achando fantástico. Olhei pra frente e fui direto para casa, que já estava bem perto. Ela entrou comigo, e se acomodou no sofá cruzando as belas pernas brancas. Perguntei-me algumas vezes o que ela fazia ali, comigo. E ela apenas sorria.
- Eu só estou te fazendo companhia, você anda tão sozinho.
- Mas ninguém quer ter a morte andando ao seu lado.
- Me considere sua vida, então.
Eu sorri. Sorri porque eu achava fantástico o fato dela estar sendo engraçada e aconchegante. Nunca imaginei a morte tão aconchegante assim.
- Então é assim que a gente morre?
- Assim? Assim como?
- Tendo uma conversa amigável com a morte?
- Não, você não está morrendo. Só acho que você é sozinho demais, e que merece ouvir algumas histórias engraçadas.
- Engraçadas? É isso que você faz? Conta histórias?
- Só pra você.
Eu não conseguia entender, algo rodava dentro da minha cabeça. Eu estava escutando um zumbido muito alto, que me deixava tonto e com náuseas. Senti que ela havia mentido pra mim, que eu estava morrendo. Lembro-me de quando ela se levantou, me olhou nos olhos, sorriu e me beijou. Um beijo ácido, cortante, amargo, doce, refrescante. Senti minha vida saindo pelas pontas dos meus dedos, e senti meus lábios dormentes. A morte mentiu pra mim.

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