Não se conserta o que já nasce com defeito.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Não conto um conto

A menina que não era Capitu, mas tinha olhos de ressaca, sentou-se no chão branco giz, que contrastava com seus cabelos negros, e chorou. Apenas chorou. E ele não estava lá para abraçá-la, e nunca mais estaria. Uma ligação conseguiu arruinar todo o seu diz, talvez toda a sua vida. Ela não sabia o que tinha acontecido com ele e no fundo nem queria saber. A maquiagem borrada e ainda com o salto que usava no trabalho estavam lá, esparramados no chão junto do corpo dela. A alma estava sendo dilacerada, sangrava em silêncio no canto da sala. O telefone tocava, mas ela não queria atender ninguém, ela queria sumir do mundo, da vida.
A campainha toca, toca, toca e toca mais algumas vezes, então alguém chama seu nome, mas ela já nem lembra seu nome. Seu corpo, assim como sua mente, estão dormentes. Ela escuta tudo, mas não consegue perceber o que está acontecendo. Ela simplesmente escuta. A campainha não para de tocar, alguém chama mais uma vez seu nome. Ela se levanta e vai até o sofá.
A porta se abre de uma vez só, ela nem vira o rosto pra olhar. Sua mãe e seu irmão estão lá, parados, estagnados, olhando pra ela, mas ela não quer vê-los. Eles sabiam do que tinha acontecido, todos sabiam. Saiu no jornal, na TV, na internet, e até colocaram fotos e vídeos. Eles abraçaram ela, porque sabia o que ela tava sentindo. Então sua chefe chegou em seu apartamento, ela teria que ver pra ter certeza que aconteceu. E teve.
Ninguém mais tinha sentidos, não nesse local, não ao lado dela. A alma deles todos estavam velando a alma dela e que logo seria enterrada. Enterrada junto da alma dele, que já não tinha mais corpo, que já não podia continuar no mundo. O que teria acontecido a ele? Uma doença? Infarto? Ou, como diria o Raul, um escorregão idiota num dia de sol?
Ela talvez nunca soubesse. Ela talvez nem sobrevivesse.