Não se conserta o que já nasce com defeito.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Manhã de domingo

Essa noite eu não dormi, e quando olhei pra o céu nem parecia uma manhã de domingo. Não dava pra ver o sol, o céu estava cheio de nuvens cinzas e carregadas, passei algum tempo olhando pra cima, como se estivesse procurando o sol, e logo depois ignorei esses minutos desperdiçados e continuei minha rotina.
Com o céu assim eu não estava pensando muito em arriscar um passeio com meu cão, mas mesmo assim Scott tentava me convencer a sair com ele... Me olhava como se estivesse implorando para sair. Relutantemente, eu saí com Scott.
Andamos um bom tempo e quando a chuva começou a cair, lentamente, eu disse ao Scott que nosso passeio teria que acabar, que era melhor irmos para casa. De algum modo ele se soltou da coleira e correu enlouquecido por toda a rua. A chuva começou a cair mais forte, e eu estava procurando por aquele cachorro idiota até que aparece alguém. Parou na minha frente e ficou me encarando por alguns minutos, tentei desviar, mas ele parecia estar querendo mesmo falar comigo. Eu encarei ele como se não estivesse assustado e ele começou a falar algo, mas estava falando baixo demais, eu não conseguia entender muito bem. Falava algo sobre cortar, feridas e queimaduras, mas eu não conseguia juntar essas palavras com as coisas que ele estava me dizendo.
Então eu disse que ele precisava falar mais alto, que eu não conseguia entender e que era melhor ser breve, eu tinha que procurar meu cão. Então ele puxou uma tesoura de jardineiro da calça e disse para que eu cortasse. Antes que eu pudesse perguntar o que era para cortar, ele tirou o casaco e eu vi pedaços de asas em suas costas. Estavam queimados e não pareciam asas como aquelas que vemos em filmes e desenhos.
Ele me disse que foi expulso de onde estava e que precisava da minha ajuda agora. Eu peguei a tesoura e cortei, mesmo com ele gritando e seu sangue descendo pelas costas e batendo no cós de sua calça. Quando terminei, pedi licença e comecei a andar, ele me disse que era tudo segredo, que eu não podia contar para as pessoas que ele era um demônio. Mas espera, anjos tem asas, não?!?
Eu me virei e falei pra ele ficar longe de mim, do meu cachorro e da minha casa. Ele sorriu, sorriu como um garoto depois que quebra de propósito a vidraça da janela de uma casa. Sorriso de garoto esperto, garoto danado.
Então falou algo muito baixo, eu que já não estava gostando de estar na chuva, com um anjo/demônio e sem o meu cachorro ignorei aquilo virei as costas e sai. Ele perguntou se eu tinha escutado o que ele tinha dito, eu disse que não, que não queria saber e que estava indo para casa. Então ele sorriu de novo e falou, acho até que repetiu o que tinha me falado antes:
- Agora é tarde para voltar pra um cachorro, uma família e uma casa que nem existe mais.

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